Ora Pois https://orapois.blogfolha.uol.com.br Um olhar brasileiro sobre Portugal Mon, 29 Nov 2021 10:25:51 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Aristides de Sousa Mendes, o ‘Schindler português’, é agora homenageado no panteão nacional https://orapois.blogfolha.uol.com.br/2021/10/22/aristides-de-sousa-mendes-o-schindler-portugues-e-agora-homenageado-no-panteao-nacional/ https://orapois.blogfolha.uol.com.br/2021/10/22/aristides-de-sousa-mendes-o-schindler-portugues-e-agora-homenageado-no-panteao-nacional/#respond Fri, 22 Oct 2021 11:26:05 +0000 https://orapois.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/AristidesSousaMendes-320x213.png https://orapois.blogfolha.uol.com.br/?p=2600 O diplomata Aristides de Sousa Mendes (1885-1954), internacionalmente conhecido como “Schindler português” por conta de seu auxílio à comunidade judaica que fugia da Alemanha nazista, faz parte agora do panteão nacional de Portugal.

Uma grande cerimônia, na última terça-feira (19), marcou a entrada de Sousa Mendes na lista das personalidades homenageadas no monumento, que celebra os principais personagens da história portuguesa.

Cônsul de Portugal na França em 1940, Aristides de Sousa Mendes desafiou as ordens do ditador António de Oliveira Salazar e emitiu milhares de vistos para  judeus que tentavam escapar da perseguição nazista.

Embora Portugal tenha se mantido oficialmente neutro durante a Segunda Guerra Mundial, a ditadura do Estado Novo optou por não auxiliar no resgate dos grupos perseguidos por Adolf Hitler.

Em novembro de 1939, o ministério dos Negócios Estrangeiros de Salazar emitiu a famigerada circular 14, enviada às repartições diplomáticas lusas, que na prática inviabilizava a concessão de vistos para refugiados judeus. Aristides de Sousa Mendes escolheu deliberadamente desrespeitar essas ordens.

A desobediência civil do cônsul salvou milhares de vidas, mas teve um grande custo pessoal. Punido por Salazar e expulso da carreira diplomática, ele acabaria por morrer na miséria.

Com a redemocratização de Portugal, o reconhecimento das ações de Sousa Mendes para salvar milhares de vidas é cada vez maior por parte do Estado. A cerimônia de homenagem no Panteão contou com a presença das principais figuras políticas do país e foi transmitida ao vivo na televisão.

O presidente luso, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou que Portugal agora se curva diante da personalidade moral do diplomata.

“[Aristides de Sousa Mendes] Mudou a história de Portugal nesse momento trágico chamado genocídio em plena guerra mundial. Porque de genocídio se tratava, já na perseguição de comunidades, que haveria de acabar em Holocausto”, completou.

Por decisão da família, os restos mortais do antigo cônsul permanecerão em sua cidade natal, Cabanas de Viriato, no centro de Portugal. No Panteão nacional passa a figurar uma placa em homenagem a Sousa Mendes.

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De princesa carioca a rainha de Portugal: exposição conta a vida de D. Maria 2ª https://orapois.blogfolha.uol.com.br/2021/06/07/de-princesa-carioca-a-rainha-de-portugal-exposicao-conta-a-vida-de-d-maria-2a/ https://orapois.blogfolha.uol.com.br/2021/06/07/de-princesa-carioca-a-rainha-de-portugal-exposicao-conta-a-vida-de-d-maria-2a/#respond Mon, 07 Jun 2021 12:25:58 +0000 https://orapois.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/Maria2_3-320x213.png https://orapois.blogfolha.uol.com.br/?p=2445 Filha mais velha de D. Pedro 1º, nascida no Rio de Janeiro em 1819 (três anos antes da independência), a princesa Maria da Glória acabou virando formalmente rainha de Portugal com apenas  7 anos, após a morte do avô, D. João 6º, e da abdicação do pai, então imperador do Brasil, em seu favor.

A vida e a trajetória da monarca, que enfrentou um golpe de estado organizado pelo tio, ficou viúva dois meses depois do casamento e teve a missão de ser a chefe de Estado de um país recém-saído de uma guerra civil, é agora contada em uma grande exposição em Portugal.

Recém-inaugurada em Lisboa, a mostra “D. Maria 2ª: de princesa brasileira a rainha de Portugal. 1819-1853” traz centenas de
peças e documentos, oriundos de diferentes coleções, tanto públicas quanto particulares.

Dois dos destaques da exposição, a coroa e o cetro de Maria 2ª não eram expostos ao público há 20 anos.

Coroa e cetro da rainha D. Maria 2ª não eram expostos há mais de 20 anos | Foto: Divulgação
Coroa e cetro da rainha D. Maria 2ª não eram expostos há mais de 20 anos | Foto: Divulgação

“Ela foi rainha em um tempo em que o Estado português, as instituições e a sociedade portuguesa mudaram tão aceleradamente como, se calhar, só voltariam a mudar 150 anos depois, nos anos 50, 60 e 70 do século 20”, disse o historiador José Miguel Sardica, comissário da exposição, em uma visita especial para a imprensa.

Em cartaz até 29 de setembro, a mostra traz ainda uma grande coleção de pinturas da rainha, desde a infância até (literalmente) a hora da morte.

Estão lá ainda muitos objetos pessoais e documentos da família real.

Um dos pontos altos da exposição é a reprodução do quarto da rainha, meticulosamente reconstruído a partir de um inventário.

Os aposentos de D. Maria 2ª permitem saber um pouco mais sobre seus gostos pessoais, como uma certa queda por  enfeites de louça.

Reprodução do quarto da rainha foi feita a partir de inventário | Foto: Divulgação
Reprodução do quarto da rainha foi feita a partir de inventário | Foto: Divulgação

A peça central do quarto é uma imponente cama de madeira, trazida do Brasil, e que pertencera à mãe da rainha, a imperatriz Maria Leopoldina.

Reprodução do quarto de D. Maria 2ª inclui cama de madeira que pertenceu à imperatriz Leopoldina | Foto: Divulgação
Reprodução do quarto de D. Maria 2ª inclui cama de madeira que pertenceu à imperatriz Leopoldina | Foto: Divulgação

A exposição é organizada em conjunto pelo Museu da Presidência da República e do Palácio Nacional da Ajuda

HISTÓRIA CONTURBADA

Em 1826, na altura da morte de D. João 6º, havia uma intensa discussão sobre quem seria o herdeiro legítimo do trono português. Enquanto o filho mais velho, D. Pedro, tornara-se governante de um país recém-independente, o filho mais novo, D. Miguel, estava exilado na Áustria após um malsucedido golpe de estado orquestrado contra o próprio pai.

Mostra aborda os três casamentos da rainha | Foto: Divulgação
Mostra aborda os três casamentos da rainha | Foto: Divulgação

Em uma arriscada manobra política, o imperador brasileiro abdicou em favor da filha, Maria da Glória, com um arranjo especial. A jovem deveria se casar com o tio, D. Miguel, que seria o regente do país até que ela atingisse a maioridade.

D. Miguel regressou a Lisboa em 1828 e não demorou muito a quebrar o juramento, proclamando-se rei absoluto de Portugal.

Começava então um período de guerra civil em Portugal. Em 1831, com o agravamento da situação política também no Brasil, D. Pedro abdica da posição de imperador do Brasil e parte para a Europa, sob o título de Duque de Bragança, para tentar derrubar o irmão e restituir a coroa da filha.

A disputa entre absolutistas e liberais só acabaria em 1834, pouco antes da morte de D. Pedro 1º.

Para evitar uma nova regência, Maria 2ª foi declarada maior de idade aos 15 anos e finalmente assumiu o trono.

Em 26 de janeiro de 1835, D. Maria 2ª casou-se com Augusto de Beauharnais, príncipe de Eichstatt, que viria a morrer dois meses depois, em 1835.

Pintura de D. Maria 2ª junto ao pai, D. Pedro 1º, e à madrasta, D. Amélia. EM frente, bandeira de Portugal bordada pela própria rainha | Foto: Giuliana Miranda/Folhapress
Pintura de D. Maria 2ª junto ao pai, D. Pedro 1º, e à madrasta, D. Amélia. EM frente, bandeira de Portugal bordada pela própria rainha | Foto: Giuliana Miranda/Folhapress

Menos de um ano depois, a rainha casou-se novamente, com a aquele que seria seu companheiro até o fim da vida, Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha.

Segunda (e última) rainha reinante de Portugal (as demais eram consortes), Maria 2ª teve um papel importante na construção do Portugal moderno.

O período de Maria 2ª como monarca foi de grande instabilidade política e de sucessivas trocas de governo, em um país que sofria com uma grave crise econômica.

Ainda assim, como chefe de Estado, ela teve papel importante na promulgação da constituição no país.

Um dos principais legados foi o incentivo à educação.

Maria 2ª morreu em 15 de novembro de 1853, no parto do 11º filho.

Serviço

D. Maria 2ª: de princesa brasileira a rainha de Portugal. 1819-1853
Quando até 29 de setembro de 2021
Onde Palácio Nacional da Ajuda
Largo da Ajuda, 1349-021 Lisboa
Preço 5 euros

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De volta a Portugal, d. João 6º lidou com crise política e até golpe de Estado tramado pelo filho https://orapois.blogfolha.uol.com.br/2021/04/24/de-volta-a-portugal-d-joao-6o-lidou-com-crise-politica-e-ate-golpe-de-estado-tramado-pelo-filho/ https://orapois.blogfolha.uol.com.br/2021/04/24/de-volta-a-portugal-d-joao-6o-lidou-com-crise-politica-e-ate-golpe-de-estado-tramado-pelo-filho/#respond Sat, 24 Apr 2021 21:06:23 +0000 https://orapois.blogfolha.uol.com.br/files/2021/04/DJoao6-320x213.png https://orapois.blogfolha.uol.com.br/?p=2385 Há 200 anos, a família real portuguesa deixou o Brasil. O regresso de d. João 6º a Portugal, após mais de 13 anos fora, foi conturbado. Além do clima político hostil e da economia arrasada, o monarca enfrentou diferentes complôs para tirá-lo do trono, envolvendo sua mulher, d. Carlota Joaquina, e seu filho d. Miguel.

As adversidades começaram já no desembarque em Lisboa, em 4 de julho de 1821, quando as Cortes –que haviam assumido o poder na revolução liberal do ano anterior– fizeram questão de reforçar o rebaixamento da autoridade real.

Embora seu navio tenha chegado à capital no dia anterior, e o próprio rei tivesse manifestado o desejo de desembarcar horas depois, as Cortes deliberadamente ignoraram o pedido.

Mantido incomunicável na embarcação, d. João 6º só foi autorizado a sair no momento escolhido pelas Cortes. Além disso, viu parte de seus acompanhantes e indicações ministeriais vetadas de antemão.

As próprias cerimônias que marcaram o retorno da família real foram planejadas pelos liberais como uma forma de mostrar a nova condição da monarquia.

A população foi em peso para as ruas, mas, por determinação das Cortes, a cidade e as casas não foram adornadas com arcos triunfais, como normalmente aconteceria nessas ocasiões.

“O sentimento generalizado seria o de que se acolhia não um soberano vitorioso, mas um rei derrotado, indigno de arcos triunfais”, nas palavras do historiador Valentim Alexandre ao jornal Público.

Sem poder de barganha ou margem negocial, restou a d. João 6º aceitar as determinações e jurar a constituição liberal.

Com poderes limitados e sem conseguir indicar seus próprios ministros, d. João 6º veria a sua situação começar a mudar em 27 de maio de 1823, quando d. Miguel, com o apoio de parte do Exército, organizou uma rebelião contra o governo liberal.

Após demonstrar alguma hesitação. D. João 6º acabou aderindo ao movimento, assumindo o comando da situação e controlando a ascensão ao poder de d. Miguel, que acabou nomeado para o comando do Exército.

O episódio, conhecido como vila-francada, marcou o fim do período liberal iniciado na revolução e reestabeleceu o poder a d. João 6º.

Mesmo com a decisão do monarca de anular a Constituição, libertar presos políticos e cancelar as sentenças contra a rainha Carlota Joaquina (que havia sido punida por se recusar a jurar as leis liberais), o partido absolutista não se mostrava satisfeito com as medidas, consideradas excessivamente moderadas.

“Tudo isso desagradava a d. Carlota Joaquina e a d. Miguel, que aspiravam ao restabelecimento da monarquia absoluta”, escreve a historiadora portuguesa Maria Cândida Proença.

D. João 6º sofre então uma nova tentativa de golpe, realizado pelo próprio d. Miguel. Em 30 de abril de 1824, com apoio do Exército, o príncipe investiu contra o pai, que acabou cercado por tropas miguelistas no Palácio da Bemposta, em Lisboa.

O rei só não caiu por interferência de diplomatas estrangeiros, sobretudo os embaixadores da França e da Inglaterra, que asseguraram a d. João 6º o apoio das potências europeias.

Com o auxílio inglês, o monarca se refugiou em uma nau britânica ancorada no Tejo e conseguiu retomar o controle da situação. D. Miguel acabou demitido do comando do Exército e enviado para o exílio em Viena, na Áustria.

Fragilizado pela instabilidade doméstica e sem apoio internacional para tentar reintegrar o Brasil ao reino, Portugal, sob o comando de d. João 6º, acaba reconhecendo a independência do Brasil em agosto de 1825, em um acordo mediado pelos ingleses.

O rei morreria poucos meses depois –há fortes indícios de que ele teria sido envenenado–, em 10 de março de 1826, aos 58 anos, deixando um baita problema de sucessão.

Com o filho mais velho no comando de uma ex-colônia que se declarara independente, e o mais novo exilado por tramar um golpe de estado, quem era o herdeiro legítimo?

A disputa entre os irmãos, que se prolongou pelos anos subsequentes, mergulhou Portugal em uma guerra civil.

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