Feito só em anos excepcionais, vinho mais famoso de Portugal ganha nova edição
Não é exagero dizer que Portugal tem centenas de vinhos fantásticos, mas nenhum deles alcançou o patamar místico do Barca Velha. Oriundo da região do Douro, no Norte do país, este tinto encorpado só é produzido em anos com colheitas excepcionais. Em novembro, chega ao mercado a edição mais recente do rótulo, o Barca Velha 2008.
O preço de venda ainda não foi divulgado, mas especialistas acreditam que ele deva rondar os 300€ (cerca de R$ 1.043) no lançamento. Não raro, o preço final nas lojas acaba sendo bem maior do que o valor oficial da fabricante. Ou seja: é bem possível que as 18 mil garrafas postas à venda acabem com preços ainda mais salgados.
O processo de concepção é longo. Da colheita até a decisão de lançar um Barca Velha, em geral passam-se pelo menos seis ou sete anos. Mesmo quando as uvas recém-apanhadas dão indícios de serem de ótima qualidade, a equipe técnica acompanha o envelhecimento do vinho antes de decidir se ele serve ou não para receber o icônico nome.
A produção de boa qualidade, mas que não é considerada tão excepcional, vai parar nas prateleiras como Quinta da Leda Reserva. Os que por alguma razão não atingem o patamar, são deixados de lado.
Luís Sottomayor, enólogo responsável da Casa Ferreirinha e quem bate o martelo sobre a produção ou não de um Barca Velha, reconhece que costuma haver muita pressão para o lançamento do rótulo, uma vez que há grande demanda e um aumento significativo no faturamento da empresa a cada edição. Ele diz, no entanto, que não se deixa influenciar.
“O Barca Velha 2008 é um vinho misterioso, que revela pouco a pouco sua complexidade”, resumiu em um jantar de lançamento para a imprensa em Sintra na terça-feira.
Como uma boa parte dos vinhos portugueses, o Barca Velha é um mix de uvas de tradicionais de sua região: 50% touriga franca, 30% touriga nacional, 10% tinta roriz e 10% tinto cão.
Luís Sottomayor diz que o vinho está pronto para ser consumido agora, mas que também tem um “excelente potencial de guarda”, com o apogeu provavelmente acontecendo daqui a 15 ou 20 anos.
VALE A PENA?
Além do sabor marcante, quem compra um Barca Velha também leva para casa um pedaço da história de Portugal.
“O Barca Velha foi o primeiro grande vinho de qualidade produzido na região do Douro. Até a década de 1950, toda a produção da região era voltada para o vinho do Porto. Numa altura que não havia outros produtos de qualidade, ele se destacou. O resto do que se produzia no Douro era quase imbebível”, explica Luís Ramos Lopes, diretor da Revista de Vinhos e uma das maiores autoridades no assunto em Portugal.
“Mas é claro que houve épocas de Barca Velha menos interessantes, como no fim da década de 80 e início da de 90. Eu provei o de 1991 e não achei nada especial. Na minha opinião, o renascer do Barca Velha foi em 1999, que foi o primeiro grande Barca Velha da minha geração. Ele marcou o ponto de viragem e eu disse sim, este é um vinho de qualidade. E esse de 2008 tem o mesmo nível”, resume Ramos Lopes.
A fama –e a aura em torno do produto — é tanta que o rótulo ganhou até uma biografia: o livro “Barca Velha – Histórias de um vinho” (ed. Leya), da jornalista Ana Sofia Fonseca.
Mas a história do vinho tem mesmo ares de novela. Na década de 1950, a região do Douro em que o Barca Velha era produzido tinha acesso complicadíssimo. Moradores da região de Foz Côa costumavam até brincar que era mais fácil chegar ao Brasil do que até a cidade.
O criador do rótulo, Fernando Nicolau de Almeida, investiu na qualidade do cultivo das uvas e da fermentação. Os métodos utilizados eram uma inovação tecnológica para a época. Nos 63 anos de história do Barca Velha, foram apenas 18 colheitas (1952, 1953, 1954, 1957, 1964, 1965, 1966, 1978, 1981, 1982, 1983, 1985, 1991, 1995, 1999, 2000, 2004, 2008).
FALSIFICAÇÕES
Quem quiser levar para casa uma garrafa, deve procurar garrafeiras [lojas especializadas em vinhos] e sites de confiança. Há várias quadrilhas especializadas na falsificação de vinhos portugueses caros, principalmente o próprio Barca Velha e também o alentejano Pera Manca.
Em todo caso, as garrafas são numeradas. A informação consta no rótulo e, em caso de dúvidas, sempre é possível entrar em contato com a empresa para verificar a autenticidade.
Saúde!
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