Cogumelos impulsionam economia de aldeia no interior de Portugal

Giuliana Miranda

Organizado pelos moradores de Alcaide, uma simpática localidade com 500 habitantes não muito longe da fronteira com a Espanha, o “Míscaros – Festival do Cogumelo” conseguiu colocar a histórica aldeia no mapa da concorrida gastronomia europeia.

Variedade tóxica de cogumelo em floresta no Alcaide, interior de Portugal Crédito: Giuliana Miranda
Variedade tóxica de cogumelo em floresta no Alcaide, interior de Portugal Crédito: Giuliana Miranda

Mais de 30 mil pessoas passaram pelo evento, que aconteceu entre 11 e 15 de novembro.

Os cogumelos silvestres –que podem ser apanhados livremente nas florestas de várias partes de Portugal– sempre foram um complemento importante da dieta em zonas rurais, especialmente em períodos de crise. Por conta disso, durante muitos anos houve quem os chamasse (maldosamente, é claro) de “carne de pobre”.

Na última década, porém, o jogo virou. As variedades de cogumelo silvestres ganharam status de iguaria sofisticada e conquistaram os principais chefes de cozinha da Europa e no mundo. Para quem entende do assunto, os fungos de cultivo não têm a mesma riqueza de sabores e aromas dos que são encontrados livremente na natureza.

A região da Beira Interior, onde fica a aldeia de Alcaide, tem mais de 300 variedades de cogumelos conhecidas, o que lhe dá uma posição de protagonismo no mapa luso da iguaria. A arte de apanhar cogumelos –e evitar as muitas variedades tóxicas desses fungos– é uma traição que passa de geração para geração.

Por conta disso, a criação de um festival para celebrar o costume foi uma opção natural quando o governo da região decidiu criar um evento que pudesse celebrar os costumes locais e, ao mesmo tempo, movimentar a economia da aldeia.

A aldeia de Alcade descorada para a festa Crédito: Giuliana Miranda
A aldeia de Alcaide descorada para a festa Crédito: Giuliana Miranda

“O festival é feito pelos moradores, que abrem suas casas como tascas [estabelecimentos especializados na venda de petiscos], como espaço para arte”, afirma Paulo Alexandre Bernardo Fernandes, presidente da Câmara Municipal (o equivalente à prefeitura) do Fundão, que apoia diretamente o projeto.

Segundo ele, no início os moradores ainda estavam um pouco reticentes, mas hoje, em sua sétima edição, o momento é um dos mais aguardados do ano na aldeia.

A crise econômica foi particularmente cruel com as aldeias portuguesas, que viram muitos de seus moradores partirem para outras cidades –e até outros países– em busca de emprego. Por isso, o sucesso de iniciativas que fomentem o turismo e a economia locais são extremamente bem-vindas.

Além de degustação de vários pratos com cogumelos, o festival teve ainda música e artesanato.

Uma das atividades mais concorridas foram os passeios micológicos, em que os visitantes, acompanhados de um especialista, puderam passear na floresta e ver os cogumelos na natureza.

Além de evitar as variedades tóxicas, é importante também saber o momento certo da colheita. Cogumelos muito velhos ou muito novos não devem ser retirados da terra. E o ideal é que eles sejam apanhados usando uma cesta de vime, para que seus microscópicos esporos se espalhem pelo ambiente, garantindo a reprodução dos fungos pelos anos seguintes.

Passeio micológico mostra variedade de cogumelos da região Crédito: Giuliana Miranda
Passeio micológico mostra variedade de cogumelos da região Crédito: Giuliana Miranda

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