Designer usa arte e poesia para fazer alerta sobre azulejos degradados em Portugal
Portugal é mundialmente reconhecido pelos azulejos que decoram desde igrejas e monumentos até a fachada de casas e edifícios. Essa tradição centenária enfrenta hoje dificuldades: além de sofrerem com a falta de manutenção, os quadradinhos de cerâmica são muitas vezes roubados por turistas e até por quadrilhas especializadas. Com isso, a existência de grandes “buracos” nos padrões de azulejos é uma realidade cada vez mais comum.
Incomodada com essa situação, uma jovem designer do Porto, no Norte do país, resolveu usar sua criatividade para chamar a atenção para a degradação dos azulejos.
Batizado de “Preencher Vazios”, o projeto usa artes plásticas e poesia para ocupar os buracos causados pela ausência das peças de cerâmica.
“O projeto surgiu em um dia que fazia o meu percurso habitual no Porto e estava sempre a ver a mesma fachada sem azulejos. Comecei a reparar naquilo todos os dias e começou-me a indignar o fato de ninguém fazer nada para a revestir. Naquele espaço vazio queria colocar algo que chamasse a atenção para este problema – porque sei que nem todas as pessoas reparam nisso”, explica Joana Abreu, 23, idealizadora das intervenções.
O processo de confecção é verdadeiramente artístico. Após identificar a área em que vai instalar seus painéis, Joana bate uma foto dos azulejos originais que ainda existem e tira as medidas do espaço vazio. A fotografia é então editada no Photoshop para ter suas cores alteradas e é impressa em papel 80g.
O padrão impresso é então colado em placas de madeira recortadas segundo as medidas dos “buracos” dos azulejos faltantes. Por fim, o material leva uma camada de revestimento acrílico e é finalmente colado à fachada degradada.
Os “azulejos” estilizados por Joana também ganham frases de escritores portugueses, como José Saramago e Fernando Pessoa, o que garante ainda mais charme às intervenções.
O “Preencher Vazios” começou no Porto, onde há mais de duas dezenas de intervenções, e também se expandiu para Braga e, mais recentemente, Lisboa. Segundo a artista, a capital portuguesa deve receber novas ações em breve.
“As intervenções que faço são efêmeras, não se pode saber ao certo quanto tempo duram na cidade. Os azulejos estão bem fixos na parede, mas quem rouba os verdadeiros também consegue arrancar estes facilmente. Algumas já estão desde o ano passado e continuam intactas, outras aos poucos começam a desaparecer. A intervenção “o Porto não é um lugar, é um sentimento” em Cedofeita, uma rua muito movimentada no Porto, superou muito as minhas expectativas, pois pensei que ela não fosse durar muito tempo e resistiu cerca de 6 meses! Acho que pelo fato de as pessoas identificarem-se muito com a frase foi o que a fez resistir”, comenta Joana.
Apesar da repercussão do projeto, a artista ainda não tem qualquer patrocínio ou apoio, e arca com todos os custos das intervenções.
“Gostaria de arranjar patrocínios ou alguma bolsa relacionada com a cultura para que possa fazer intervenções com mais frequência. As próximas intervenções em Lisboa vão ser mais alargadas e ando a ver se alguma empresa/entidade me patrocina as colas por exemplo, para colar os azulejos na parede”.
Todas as obras instaladas por Joana têm a hashtag #preenchervazios, o que permite que o próprio público produza conteúdo e acompanhe o estado do material.
A artista mantém um perfil no Instagram e uma página no Facebook onde compartilha imagens do projeto e explica onde eles podem ser encontrados.
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