Com sotaque lusitano, ópera sobre a Amazônia ganha montagem em Portugal

Um festival promoveu a improvável mistura da floresta amazônica com a região do Alentejo, no centro-sul de Portugal. A ópera Onheama —uma aventura recheada de referências à mitologia indígena—ganhou uma montagem com cantores e cenografia inteiramente portugueses.

Brasileiríssima, a obra é originalmente ambientada na Amazônia e mescla vários componentes da mitologia indígena. A versão portuguesa manteve essa essência, mas agregou várias componentes lusitanas à montagem.

A começar pela própria protagonista, a índia Iporangaba, interpretada pela jovem solista portuguesa Carolina Andrade.

Para transpor o universo da maior floresta tropical do mundo para um teatro do outro lado do Atlântico, a equipe responsável resolveu incorporar diversas referências à realidade portuguesa.

A montagem dos cenários e dos figurinos ficou a cargo de profissionais —com o auxílio de vários estudantes e moradores— da cidade de Serpa, onde a ópera foi encenada neste fim de semana.

“Mantivemos a essência da Amazônia, mas incorporamos elementos que são locais. No cenário, por exemplo, a Lua e o Sol são feitos de cortiça, que é um material muito típico do Alentejo. A floresta tem também sobreiros, que é uma árvore da região”, explica José António Falcão, diretor geral do festival “Terras sem Sombra”, que organizou a apresentação.

Cenografia usa cortiça, um material típico do Alentejo | Crédito: Facebook do festival Terras sem Sombras
Cenografia usa cortiça, um material típico do Alentejo | Crédito: Facebook do festival Terras sem Sombras

Primeira ópera interpretada na região do Baixo Alentejo, a montagem de Onheama mobilizou também a população local e de outras partes do país. Devido à procura, o festival organizou uma segunda récita da obra.

A HISTÓRIA

Onheama —palavra que em tupi significa eclipse— narra a jornada de uma jovem guerreira indígena que tenta salvar o mundo enquanto interage com onças, botos e outras criaturas místicas da Amazônia.

Para muitas mitologias, esse fenômeno astronômico é considerado um mau presságio. Na peça, a onça celeste Xivi consegue devorar o Sol, Guaraci. Com sua fome insaciável, a onça vai atrás das estrelas e de Jaci, a Lua. Cabe a Iporangaba impedir que isso aconteça e, assim, salvar a vida no planeta.

Apesar da complexidade artística, obra é repleta de aventura e é voltada principalmente para o público infantojuvenil.

Dividida em três atos, a ópera estreou em 2014 no Festival Amazônia, em Manaus, e é a primeira vez que é levada ao exterior.

Onheama foi apresentada nesta semana em Serpa | Crédito: Facebook do festival Terras sem Sombras
Onheama foi apresentada nesta semana em Serpa | Crédito: Facebook do festival Terras sem Sombras

“É uma montagem europeia, mas ainda tem muito do Brasil”, diz o autor da ópera e presidente da Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro, João Guilherme Ripper, que veio a Portugal para a apresentação e acompanhou de perto a chegada de seu trabalho aos palcos portugueses.

“A mensagem [de Onheama] parece ser local, mas é um tema muito universal. Ela não está no festival por acaso. O tema caiu como uma luva”, avalia Ripper.

Para dar vida a Amazônia sonhada por Ripper, a versão portuguesa contou com mais de cem pessoas no palco, incluindo membros do coro do Teatro Nacional de São Carlos do coro juvenil do Instituto Gregoriano de Lisboa e da Orquestra Sinfónica de Lisboa.

O maestro foi o brasileiro Marcelo de Jesus.

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