Após dois anos sem matar ninguém, polícia portuguesa fez três vítimas em um mês

Giuliana Miranda

Com índices de criminalidade em baixa e após muito investimento na formação dos agentes, a polícia de Portugal passou mais de dois anos sem causar nenhuma morte. No último mês, porém, os policiais já fizeram três vítimas fatais. A escalada na violência preocupou as autoridades.

Embora quando comparados ao Brasil os números sejam inegavelmente pequenos — em 2015, só a polícias Civil e Militar do Estado do Rio de Janeiro mataram 645 pessoas, segundo números da Human Rights Watch — os episódios de confrontos violentos dos agentes com bandidos são cada vez mais raros em Portugal.

Policiais em Portugal (Foto: Wikicommons)
Policiais em Portugal (Foto: Wikicommons)

Para os especialistas, o segredo foi uma combinação à repressão eficaz aos crimes que geravam muitos conflitos, como assaltos a postos de gasolina, juntamente com um pesado investimento na formação dos policiais e a criação de normas rígidas para justificar o uso das armas de fogo.

Um caso especial, em 2008, é considerado um marco na mudança na abordagem da polícia portuguesa.  O agente Hugo Ernano acabou atingindo e matando uma criança cigana durante uma operação. O funcionário da GNR (Guarda Nacional Republican) teve uma punição pesada: foi suspenso de suas funções, passou a receber só um terço do salário, foi condenado a pagar uma indenização de 50 mil euros aos pais da criança morta e ainda foi condenado a quatro anos de prisão.

“Desde a divulgação deste caso, os profissionais da GNR pensam mais de duas vezes antes de disparar”, avalia o líder da Associação de Profissionais da Guarda, César Nogueira, em entrevista ao jornal português “Diário de Notícias”.

Coincidência ou não, depois do episódio as forças policiais passaram a ter mais ênfase no treinamento, além de regras mais rígidas. Hoje, quando um policial em Portugal aperta o gatilho, ele é obrigado a provar que teve uma boa razão para o fazer.

E é isso que as autoridades estão apurando agora: se as mortes causadas pela polícia foram justificadas e se o uso de força foi ou não excessivo.

No primeiro caso, ocorrido em 30 de agosto, a vítima tinha 16 anos e foi atingido enquanto estava em um carro furtado. Ele e outros colegas haviam acabado de arrombar uma loja para roubar uma máquina que vende cigarros. Não foram encontradas armas no veículo.

Nos arredores de Lisboa, um homem também foi morto a tiros após uma perseguição policial, que passou inclusive pela ponte Vasco da Gama, um dos maiores cartões postais da cidade. Dessa vez, o suspeito estava armado com uma pistola de calibre proibido para civis e efetuou disparos contra a viatura.

O outro caso aconteceu no Vale da Amoreira, quando um homem, que já tinha um mandado de prisão, teria tentado atacar policiais com uma faca e um machado após ser abordado.