Drag queens fazem sucesso com brunch e aulas de culinária portuguesa em Lisboa
Todos os domingos de manhã, Irina Ganache surge performática – com 1,90 m, peruca esvoaçante e maquiagem impecável– entre as mesas coloridas que abrigam cerca de 60 pessoas, entre portugueses e turistas, que lotam o Drag Brunch, um improvável evento que junta culinária portuguesa e apresentações de drag queens.
Com sessões às 11h e às 14h, ao preço de 25 euros (cerca de R$ 125) pelo bufê liberado, os ingressos para os brunchs dominicais costumam esgotar ainda durante a semana: um resultado que ainda surpreende Irina, nome artístico do russo Nikolay Novachuk, um dos sócios do espaço.
Junto com o marido, que é português e sempre gostou de culinária, Novachuk abriu em junho de 2019 o Drag Taste, um espaço dedicado simultaneamente às performances de drag queens e à gastronomia.
O casal, que já tinha como hobby a caracterização, começou organizando jantares temáticos em sua casa, em Sintra (na grande Lisboa). Com o sucesso dos eventos, eles decidiram investir em um espaço aberto ao público.
Instalado em um amplo espaço na LX Factory, uma antiga fábrica que foi reformada e virou um dos pontos mais descolados da capital portuguesa, o Drag Taste funciona simultaneamente como um restaurante, ateliê culinário e espaço para espetáculos.
O modelo, porém, demorou a engrenar, e o sócio Nikolay Novachuk conta que o projeto esteve próximo de fechar.
“Aí tivemos a ideia de investir no brunch. Fizemos publicidade, investimos no conceito e tem sido um sucesso”, conta ele, em um português impecável e com leve sotaque.
Além de saborear quitutes típicos de Portugal (e clássicos do café-da-manhã), quem frequenta o brunch assiste a um show com direito a música e coreografia de um grupo eclético (e internacional) de artistas.
Entre o casting há drags da Rússia, do Brasil, de Portugal e até da Colômbia. Normalmente, há entre seis e oito artistas por show.
“Em outros países, o trabalho de drag queen já é mais reconhecido, mas aqui em ainda não. Lisboa era uma cidade em que as drags normalmente só trabalhavam à noite. Aqui, as apresentações são durante o dia, há uma valorização das artistas”, diz Novachuk.
Além do brunch, os workshops culinários –e de caracterização de drag queens– também fazem sucesso, especialmente no mercado internacional.
Em fevereiro, várias empresas optaram por fazer eventos de team building no espaço.
“É muito engraçado ver como as pessoas se divertem. Tem uns homens enormes, de barba, que depois dizem que não querem tirar a maquiagem e saem daqui cheios de purpurina”, conta Melk Gaya Sá, cuja versão drag se chama Keyla Brasil.
Professora de teatro em comunidades carentes do Rio de Janeiro e artista circense, Keyla decidiu deixar o Brasil após sofrer ataques homofóbicos em 2018.
“A violência contra a comunidade LGBT piorou muito nos últimos dois anos. Fui vítima de violência várias vezes e saí por causa disso. Aqui, apesar de vez em quando ter um olhar torto, não sinto medo”, conta.
A drag Khaos, nome artístico do português Diogo Conde, é a mais jovem do grupo, com 21 anos. Ela iniciou a carreira há alguns meses.
“Gosto do clima daqui, todo mundo se ajuda”, conta, enquanto prepara sua maquiagem para uma apresentação para um grupo de 60 funcionários de uma multinacional.
Enquanto isso, do lado de fora, dezenas de curiosos param para espiar, através das grandes janelas de vidro, a bancada de vidro em que o grupo se prepara. São em média três horas de caracterização antes dos espetáculos.
“Não é fácil, mas ficamos lindas”, diverte-se Keyla Brasil.
Serviço
Drag Taste
LX Factory
rua Rodrigues de Faria 103, Lisboa
Reservas: bookings@dragtaste.com
Tel.: +351 93 142 33 33