Estreia de apresentador negro com dreadlocks em telejornal faz sucesso em Portugal

Em um momento em que Portugal enfrenta um aumento de casos de violência racial, a estreia de um jornalista negro e de cabelos com dreadlocks fez sucesso nas redes sociais do país, onde o assunto viralizou e ficou entre os mais comentados do fim de semana.

De terno e gravata,  Cláudio Bento França, 27, fez sua estreia ao vivo no comando do jornal matinal da emissora SIC Notícias, uma das mais assistidas do país, no último sábado (26).

A imagem do jornalista negro e com cabelo estilo rastafári rapidamente fez sucesso, com manifestações positivas entre anônimos e celebridades.

Muitas das mensagens destacavam a importância da representatividade na televisão portuguesa.

Cláudio França não é o primeiro negro a comandar um telejornal português, mas a repercussão de sua chegada ao posto de apresentador –que em Portugal se chama pivô– mostra como esses casos ainda são raros.

A jornalista Conceição Queiroz, do canal TVI24, é uma das exceções. Desde 2015, ela também ocupa o posto de apresentadora de telejornais.

Conceição comemorou a estreia de Cláudio Bento no posto.

“Estou a torcer por ele, esta é uma grande oportunidade, e é tão raro elas existirem”, afirmou, em entrevista ao Diário de Notícias.

“Acho que este deve ser um momento de reflexão e de os negros continuarem a investir neles próprios, na educação e estarem preparados para quando chegar e surgir a oportunidade a agarrarem sem medos”, completou.

Tanto a SIC Notícias quanto o jornalista têm optado por não se manifestar sobre a repercussão da estreia.

Fontes ligadas à emissora afirmam que França já vinha se destacando como profissional, e que sua chegada ao posto trilha o caminho normal de ascensão do canal.

RACISMO PREOCUPA

Não existe um número oficial sobre a população negra em Portugal. Ao contrário do Brasil, por exemplo, o censo luso não tem nenhuma pergunta sobre a raça de quem mora no país. Chegou-se a discutir a possibilidade de incluí-la, mas a proposta foi recusada para a próxima edição do recenseamento.

Nos últimos meses, uma série de episódios de violência têm demonstrado tensões raciais crescentes no país.

Em agosto, após organizarem uma passeata ao estilo Ku Klux Khan, extremistas de direita ameaçaram de morte duas deputadas negras e lideranças de organizações de combate ao racismo, dando a eles 48 horas para que deixassem o país.

Menos de um mês antes, o ator negro Bruno Candé fora assassinado com quatro tiros à queima-roupa. Segundo testemunhas, o autor dos disparos, que era vizinho do artista,  disse “preto, vai para a tua terra” antes de atirar.

Esses e outros casos de agressão levaram a ENAR (Rede Europeia Contra o Racismo) a pedir “uma resposta institucional urgente” às autoridades portuguesas.