Após um ano de ausência, portugueses voltam às ruas para celebrar Revolução dos Cravos e fim da ditadura

Impedidos de comemorar nas ruas a Revolução dos Cravos em 2020,  quando estava em vigor o primeiro lockdown contra a Covid-19, os portugueses puderam, neste ano, voltar às celebrações presenciais.

Embora ainda com restrições, distanciamento e máscaras obrigatórias, o 25 de abril, que marca os 47 anos do fim da ditadura do Estado Novo, foi festejado em todo o país.

Festa nacional e feriado, a data também foi celebrada com uma sessão especial no Parlamento e um discurso do Presidente da República.

A manifestação mais emblemática, na av. da Liberdade, em Lisboa, voltou a acontecer. Ainda que os organizadores não tenham incentivado a participação presencial, muitas pessoas fizeram questão de acompanhar o tradicional cortejo.

O dia ensolarado e quente –contrariando a previsão do tempo, que antevira uma tempestade– parece ter motivado os portugueses a também desconfinarem a participação cívica.

Desfile do 25 de abril voltou às ruas de Lisboa em 2021 | Foto: S. Couvreur
Desfile do 25 de abril voltou às ruas de Lisboa em 2021 | Foto: S. Couvreur

O público na manifestação lisboeta, como de costume, foi um mix de faixas etárias, incluindo muitos idosos, estudantes, jovens trabalhadores e famílias com crianças.

Um detalhe: neste ano, estava mais difícil conseguir comprar o cravo que é símbolo da festa. Talvez por não terem botado fé no quórum do desfile, os tradicionais vendedores de flores não davam conta da demanda.

Muitas famílias com crianças estiveram presentes em Lisboa | Foto: S. Couvreur
Muitas famílias com crianças estiveram presentes em Lisboa | Foto: S. Couvreur

O desfile é marcado pela participação de delegações de várias cidades e associações, que costumam ostentar faixas que condenam o fascismo e exaltam a democracia. Além, é claro, de reivindicações como melhores salários e melhores cuidados de saúde.

Muitos brasileiros participaram da manifestação e houve críticas ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em vários momentos do desfile, manifestantes entoaram o coro “Bolsonaro genocida”, em referência à gestão da pandemia no Brasil.

Brasileiros também participam do 25 de abril | Foto: S. Couvreur
Brasileiros também participam do 25 de abril | Foto: S. Couvreur

A REVOLUÇÃO

Em 25 de abril de 1974, um movimento de sublevação nos quartéis portugueses ganhou as ruas e levou à queda de uma das mais longas ditaduras do século 20.

Inaugurado por António Oliveira Salazar em 1933, o chamado Estado Novo durou 41 anos, período marcado por repressão, pobreza e uma sangrenta guerra colonial.

Em 1968, Salazar sofreu um acidente e ficou incapacitado para continuar no comando do país. Foi substituído por Marcello Caetano, que já ocupara vários ministérios no regime de exceção. Salazar morreria em 1970, mas o regime que criara seguia em funcionamento.

Com a adesão das tropas e da população ao movimento revolucionário, Marcello Caetano anunciou sua rendição no início da noite do próprio dia 25 de abril.

O antigo autocrata partiu para o exílio no Brasil, vivendo no Rio de Janeiro e trabalhando como professor universitário. Ele morreu em 1980, sem jamais retornar a Portugal.