Produção sobre tragédia de Mariana leva prêmio do júri no festival DocLisboa
O documentário “O Lugar Mais Seguro do Mundo”, que aborda a tragédia do rompimento da barragem em Mariana (MG), acaba de ganhar o prêmio do júri da competição internacional no festival DocLisboa, em Portugal.
Ocorrido novembro de 2015, o colapso da barragem da Samarco, joint-venture da Vale e da mineradora anglo-australiana BHP, provocou um “tsunami” de lama que deixou 19 mortos e um rastro de destruição social e ambiental.
O filme premiado, dirigido pelas brasileiras Helena Wolfenson e Aline Lata, apresenta o desastre de Mariana através da história de Marlon: um jovem que vê sua vida completamente transformada ao se tornar vítima da catástrofe.
Obrigado a se mudar do campo para a periferia da cidade, Marlon enfrenta novos conflitos e é testemunha de outra tragédia ligada à mineração no Brasil: o rompimento da barragem de Brumadinho, também em Minas Gerais, que deixou 272 mortos em janeiro de 2019.
Foram mais de cinco anos acompanhando a vida de Marlon e de outros moradores de Bento Rodrigues, distrito de Mariana vizinho à barragem e que ficou completamente arrasado pela onda de lama.
“O filme fala muito sobre casa, sobre pertencimento e sobre as grandes injustiças de tudo o que aconteceu, da negligência das empresas de mineração. O Marlon está sempre lutando, inclusive pelo direito de estar na casa de Bento Rodrigues. A casa dele é uma que não foi diretamente atingida pela lama, mas que ficou ilhada por ela. A casa está lá com toda a cidade destruída ao redor”, diz Aline Lata.
O título, “O Lugar Mais Seguro do Mundo”, faz referência à atual situação do distrito: cercado de câmeras, com monitoramento de seguranças da Samarco e tentativas de restrição de acesso.
“Antes da tragédia, não havia nada disso. Não tinha câmera de segurança, não tinha sirene. Por isso que todo mundo teve de sair correndo de casa, com muitos riscos, sem nenhum tipo de aviso. Agora tem todo tipo de segurança. O nome do filme tem muito a ver com isso. É uma fala do Marlon, uma reflexão sobre o lugar que ele gostaria de voltar, que é a casa dele, que se tornou o lugar mais seguro do mundo. Tem esse lado que é importante falar, que é essa apropriação da empresa de algo que não é dela”, completa Aline Lata.
A versão finalizada do documentário fez sua estreia mundial em Lisboa.
“Foi muito surpreendente e ao mesmo tempo muito positivo. A gente ainda não tinha saído com o filme para o mundo, não sabíamos como ele iria ressoar em outras realidades, em pessoas que nunca tinham ouvido falar dessa tragédia e dessa condição que nós vivemos no Brasil, de ter tantas tragédias, que acontecem quase cotidianamente”, diz Helena Wolfenson.
Wolfenson conta que o filme teve um percurso um pouco diferente do tradicional.
“Aconteceu um pouco pelo caminho inverso de muitos filmes, que é ter um pré-roteiro e um planejamento e, a partir daí, partir para o desenvolvimento. Nós fomos um pouco pelo oposto.Eu e a Aline fomos levadas a Mariana por razões diferentes e nos conectamos lá. A gente se conhecia brevemente de São Paulo, mas não tínhamos ideias de fazer este filme. Nós conhecemos o Marlon e os amigos deles, e as coisas foram acontecendo”, completa.
O filme ainda não tem data de estreia no Brasil, mas deve participar de festivais brasileiros já nos próximos meses.